Nascemos em
uma época onde, oficialmente, existe a liberdade de expressão, o direito de ir
e vir, o amor livre independente de gêneros... essa é uma ilusão que nos é
vendida, porém se pararmos para pensar nas mínimas coisas do nosso cotidiano,
não é bem assim.
Nos
primeiros anos de vida, já somos “podados” em várias situações tipo: não pode
pegar os cisnes de porcelana da sala da casa da tia, não pode comer comida do
chão, não pode desenhar nas paredes, não pode isso, não pode aquilo. Se somos
meninas então, aí piora! Não pode andar pelada pela casa, não pode sentar de
pernas abertas, não pode tocar livremente em nosso corpo, não pode, não pode,
não pode...
Vamos
crescendo e o número de amarras vai aumentando. Lembro-me de, por volta dos
meus 14 anos, ouvir repetidas vezes minha mãe me aconselhando:
- Uma
mocinha não deve correr atrás dos meninos, deixe que eles corram atrás de você.
É feio uma menina ficar se oferecendo!
E eu
pensava: “Nossa, não posso demonstrar meus sentimentos, então! Devo
camuflá-los!”
Os conselhos continuavam:
E um homem
bêbado não é igualmente feio? Não fica mal visto, também?
Cresci pensando
que quando fosse adulta, poderia ter liberdade para decidir minha vida. Doce
ilusão! Da ótica feminina, decisões baseadas nas necessidades dos outros são
muito frequentes. Logo que começamos a namorar, já começamos a modificar vários
comportamentos em nome do relacionamento, tipo: evitar de sair sozinha com
amigas para as baladas, evitar muita proximidade com amigos para evitar crises
de ciúmes, ir menos à viagens que não incluam o amado...
Quando
casamos a coisa piora: cedemos o controle da televisão e deixamos de assistir
novela para assistir jogo de futebol ou documentário sobre a Segunda Guerra
Mundial (saturada! O que tem mais para saber sobre isso?). Vêm os filhos, em
vez de documentário, decoramos toda a programação infantil, musiquinhas, nome
de personagens.
Nossas escolhas profissionais são
muito difíceis, pois levam em conta todas as questões da maternidade, a atenção
ao marido e acabam sendo limitadas, mais uma vez, em nome do bem estar dos
outros.
Os filhos
crescem, o casamento amadurece ( tanto faz se o marido vai ou não gostar, a
gente faz!) e, finalmente, teremos a tão sonhada liberdade de decisão! Que
nada! Começam as pressões sociais, veladas, mas reais. Para uma mulher da minha
idade, espera-se várias coisas. A carreira profissional deve estar estabelecida
e que despero que dá quando olhamos em volta e nem temos certeza se chegamos
onde queríamos chegar! Tomar a decisão de começar qualquer projeto do zero à
essa altura da vida, faz surgir vários fantasmas, muitas incertezas, sensação
de que não há mais tempo.
Comer o que
queremos? Jamais! A onda agora são as mulheres 4.0 magras, novas, lindas e
descoladas. O prazer de comer um
delicioso pedaço de torta holandesa, em poucos segundos, vira uma voz
martelando na sua cabeça: “você acabou de consumir 225 calorias, 15,06g de gordura e 20,21g de
carboidratos, resumindo, vai engordar!” Bate aquele desespero, saímos loucas
atrás de revistas que indiquem a receita de beleza de Letícia Spiller, a dieta
milagrosa de Ana Furtado, 10 dicas para perder gordura em uma semana, etc.
O fato é que nunca
conseguimos estar inteiramente livres para decidir o que queremos. Acabamos nos
convencendo de que viver com limites é uma necessidade e que qualquer coisa que
nos tire do prumo é danosa, inaceitável e perigosa. O desafio nessa fase da
vida, é buscar o equilíbrio e tentar fazer escolhas que não nos violente muito
e nem nos tolha demais. Não é tarefa fácil! Talvez por isso amadurecer gere
tantos conflitos e incertezas.
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