sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Limites: necessidade ou imposição?





            Nascemos em uma época onde, oficialmente, existe a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, o amor livre independente de gêneros... essa é uma ilusão que nos é vendida, porém se pararmos para pensar nas mínimas coisas do nosso cotidiano, não é bem assim.

            Nos primeiros anos de vida, já somos “podados” em várias situações tipo: não pode pegar os cisnes de porcelana da sala da casa da tia, não pode comer comida do chão, não pode desenhar nas paredes, não pode isso, não pode aquilo. Se somos meninas então, aí piora! Não pode andar pelada pela casa, não pode sentar de pernas abertas, não pode tocar livremente em nosso corpo, não pode, não pode, não pode...

            Vamos crescendo e o número de amarras vai aumentando. Lembro-me de, por volta dos meus 14 anos, ouvir repetidas vezes minha mãe me aconselhando:

            - Uma mocinha não deve correr atrás dos meninos, deixe que eles corram atrás de você. É feio uma menina ficar se oferecendo!

            E eu pensava: “Nossa, não posso demonstrar meus sentimentos, então! Devo camuflá-los!”

Os conselhos continuavam:

            - Jamais beba em excesso! É muito feio uma mulher bêbada! Fica mal vista!

            E um homem bêbado não é igualmente feio? Não fica mal visto, também?

            Cresci pensando que quando fosse adulta, poderia ter liberdade para decidir minha vida. Doce ilusão! Da ótica feminina, decisões baseadas nas necessidades dos outros são muito frequentes. Logo que começamos a namorar, já começamos a modificar vários comportamentos em nome do relacionamento, tipo: evitar de sair sozinha com amigas para as baladas, evitar muita proximidade com amigos para evitar crises de ciúmes, ir menos à viagens que não incluam o amado...

            Quando casamos a coisa piora: cedemos o controle da televisão e deixamos de assistir novela para assistir jogo de futebol ou documentário sobre a Segunda Guerra Mundial (saturada! O que tem mais para saber sobre isso?). Vêm os filhos, em vez de documentário, decoramos toda a programação infantil, musiquinhas, nome de personagens.

Nossas escolhas profissionais são muito difíceis, pois levam em conta todas as questões da maternidade, a atenção ao marido e acabam sendo limitadas, mais uma vez, em nome do bem estar dos outros.

            Os filhos crescem, o casamento amadurece ( tanto faz se o marido vai ou não gostar, a gente faz!) e, finalmente, teremos a tão sonhada liberdade de decisão! Que nada! Começam as pressões sociais, veladas, mas reais. Para uma mulher da minha idade, espera-se várias coisas. A carreira profissional deve estar estabelecida e que despero que dá quando olhamos em volta e nem temos certeza se chegamos onde queríamos chegar! Tomar a decisão de começar qualquer projeto do zero à essa altura da vida, faz surgir vários fantasmas, muitas incertezas, sensação de que não há mais tempo.

            Comer o que queremos? Jamais! A onda agora são as mulheres 4.0 magras, novas, lindas e descoladas.  O prazer de comer um delicioso pedaço de torta holandesa, em poucos segundos, vira uma voz martelando na sua cabeça: “você acabou de consumir 225 calorias, 15,06g de gordura e 20,21g de carboidratos, resumindo, vai engordar!” Bate aquele desespero, saímos loucas atrás de revistas que indiquem a receita de beleza de Letícia Spiller, a dieta milagrosa de Ana Furtado, 10 dicas para perder gordura em uma semana, etc.

            O fato é que nunca conseguimos estar inteiramente livres para decidir o que queremos. Acabamos nos convencendo de que viver com limites é uma necessidade e que qualquer coisa que nos tire do prumo é danosa, inaceitável e perigosa. O desafio nessa fase da vida, é buscar o equilíbrio e tentar fazer escolhas que não nos violente muito e nem nos tolha demais. Não é tarefa fácil! Talvez por isso amadurecer gere tantos conflitos e incertezas.

           

           

          


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