domingo, 16 de agosto de 2015

Mudanças nem sempre bem vindas



                A roda da vida gira muito rápido e parece que, de repente, duplica a velocidade de forma assustadora.  A percepção desse “giro” também muda com os anos. No início, tudo passa muito lento. As férias escolares demoram demais a chegar, o dia da criança, o Natal na casa da avó para rever os primos, o aniversário para ganhar aquele brinquedo especial... o tempo parece andar à passos de tartaruga e o desejo de que ele corra como a lebre é imenso!
                Segunda fase da vida, a adolescência. O tempo deixa de ser uma preocupação: o que importa é viver o presente! O futuro é pensado até o próximo show ou a próxima balada! E é, justo nessa fase, que nossos pais mais nos azucrinam, tentando nos fazer planejar o futuro. Mas que importa o futuro, se todos os hormônios estão em ebulição? A sensação de plenitude e de ter a vida inteira para pensar em coisa séria... pra que perder tempo com isso? A auto estima começa a se desenvolver, a visão dos outros em relação à nós passa a ter um peso enorme e a necessidade de fazer parte e se enquadrar em algum lugar deste mundo é o que importa.
                A terceira fase, vida adulta, é onde a velocidade começa a aumentar. Essa fase pode ser dividida em dois momentos: o início, onde existe uma força pulsante dentro de nós que nos motiva a conquistar o mercado de trabalho, ter uma família, um lar. Todo dia é um novo desafio e temos uma meta a seguir. Normalmente, essa fase acontece dos 25 aos 35 anos, estamos à pleno vapor! O tempo parece correr mais rápido, mas tudo bem! É bom que chegue logo o novo dia para começarmos a correr atrás de nossas metas, com garra e vontade.
                Daí vem o segundo momento... e, antes de descrevê-lo, quero deixar claro de que falo com muita propriedade, pois é nele que me encontro. Quando menos esperamos, estamos quase na metade da jornada! Mas já? Quase 40! O que acontece no ponteiro interno quando essa etapa chega?  Bom, pra começar, o corpo começa a dar sinais de “desgaste”. Aquelas letrinhas, miudinhas, do verso do shampoo, parecem ter encolhido ainda mais e algumas até dançam!  Os primeiros cabelos brancos começam a surgir. Outro dia, estava eu a retirar os pelos da sobrancelha e avistei um pelinho branco lá! Nossa, que susto! Me gabava de ainda não ter nenhum! Uma noite em uma festa custa quase dois dias inteiros de um cansaço enorme! Antes dava pra passar 3 noites seguidas na balada e tudo ok! Cada quilo à mais adquirido carece de uma disciplina severa de dietas e exercícios e, mesmo assim, a balança praticamente só aprende a somar e quase nunca a diminuir.
                Embora seja a parte “palpável” dessa terceira fase, as mudanças físicas não são as piores. A percepção corporal da finitude e a sensação de que o tempo está escorregando pelos dedos, nos leva à um estado de introspecção. Ao me aproximar dos 40 (estou com 38 anos e 7 meses), muitos questionamentos relativos ao que fiz até aqui e ao que quero para o futuro, invadiram minha cabeça.  Entrei em crise existencial.
                O primeiro pensamento é sobre a carreira profissional. Antes dedicava todo o meu tempo ao trabalho, porque financeiramente me satisfazia, e agarrava toda oportunidade de emprego, visando aumentar a renda. Hoje, quero priorizar meu tempo livre, cuidar da minha saúde, dedicar mais tempo à família, amigos, à mim. Começo a rejeitar propostas de trabalho que signifiquem tomar mais meu tempo. Estou em processo de redução de carga horária.
                A opinião dos outros pouco me importa! Os pensamentos são claros e já não consigo mais engolir os sapos de antes. Agradar as pessoas a qualquer custo, à ponto de abdicar de minhas vontades, não fazem mais parte de minha estratégia de boa convivência! O número de pessoas que fazem parte do que considero amigas, não somam mais que os dedos das mãos e, além da família, são as únicas que têm poderes de influenciar minhas decisões.

                Essas e muitas outras questões vão sendo colocadas na “berlinda” para sofrerem análise rigorosa de um controle de qualidade: qualidade de vida. Muitas outros processos de mudança acontecem e acontecerão nessa nova empreitada e, cada nova tribulação, merece uma análise cuidadosa e possível redirecionamento, pois o relógio não para e corre acelerado! Enfim, o meu projeto futuro começa com um lema, que a maioria das pessoas riem quando falo: estou na caminhada rumo aos 105 anos.  Essa meta me dá a sensação de prolongamento de prazo de validade. Como se assim, conseguisse afastar mais a ideia de que a vida está mais curta agora!
                Pareço bem resolvida e cheia de certezas, mas na verdade sou um ser em estado de ebulição, que todo dia acorda com um novo objetivo e nem sempre consegue seguir as metas de forma metódica. Acho que isso torna maior o desafio de atingir a tão sonhada e preciosa fórmula da felicidade. O olhar para alguma direção é que traz o impulso de querer realizar algo e que traz um certo conforto de estar caminhando na direção certa. Será?

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